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Precisamos falar sobre o Coronavírus

  • Foto do escritor: Luana Lessa
    Luana Lessa
  • 21 de mar. de 2020
  • 10 min de leitura

Atualizado: 7 de abr. de 2020

Na realidade precisamos CONTINUAR falando e batendo nas mesmas teclas sobre essa doença e tudo que ela envolve. É NECESSÁRIO informar e manter a população atenta sobre tudo o que está acontecendo em relação a dinâmica dessa doença que segue assustando a maioria da população e dividindo opiniões entre outras pessoas que dizem não passar de uma gripe comum. O fato é que PRECISAMOS encarar que EXISTE sim um vírus circulando e afetando uma parcela considerável da população. Para IMPEDIR que ele se espalhe é NECESSÁRIO reforçar certos cuidados no dia a dia de cada um. Aposto que você está SATURADO de tanta informação por via internet, celular e televisão, mas é bom ESCLARECER que nem todas as notícias que circulam são VERDADEIRAS, muitas delas são FAKE NEWS. Logo, é IMPORTANTE averiguar as notícias que circulam e são divulgadas. Por trabalhar muito tempo com virologia e saúde pública, busquei em artigos e notícias ENTENDER o que está acontecendo e resolvi compartilhar algumas informações com vocês. Vale ressaltar que muitos pesquisadores chineses estão tendo o CUIDADO de colocar em seus artigos que é importante CONTINUAR pesquisando e comparando dados uma vez que muitas das amostragem ainda são baixas e o comportamento do vírus e da doença pode ser DIFERENTE ao redor do mundo. Portanto, vamos conversar um pouquinho sobre isso tudo?


O VÍRUS


1. Foi nomeado como Sars-Cov-2 por sua semelhança genética com o vírus Sars-Cov responsável por uma doença conhecida como Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) que teve um histórico um tanto assustador na China em 2002. Os sintomas de ambas as doenças são semelhantes, mas as diferenças genéticas entre os vírus interfere na patogênese viral, ou seja, no desenvolvimento da doença.

2. Trata-se de um vírus envelopado, ou seja, possui uma "proteção" extra sob o material genético que é RNA positivo (+). Uma vez que esse material é inserido numa célula humana ou animal vai ser preciso produzir uma fita complementar (RNA-) para só então ser possível produzir novos vírus que infectaram novas células.

3. São capazes de infectar humanos e animais e são divididos em 4 subfamílias que se diferenciam pelo tipo de hospedeiro. O Sars-Cov-2 encontra-se no grupo beta que tem como hospedeiros naturais mamíferos, principalmente morcegos e ao infectar humanos podem causar doenças graves e fatais.

4. Possui 4 proteínas importantes na sua formação, sendo a proteína Spike a mais relevante, pois é ela que interage com a célula do hospedeiro. É essa proteína também que difere entre os vírus Sars, sendo um possível alvo para pesquisas que buscam impedir a entrada do vírus na célula.

5. Estudos mostram que o genoma do Sars-Cov-2 é 96% semelhante a um coronavírus encontrado em morcegos, mas suas diferenças o tornam único e deixa uma dúvida a ser respondida. Quem seria o hospedeiro intermediário entre morcegos e humanos?! O epicentro das transmissões foi um mercado popular na China que tem como costume vender carnes exóticas, mas é de conhecimento geral que não havia morcegos a venda, mas foi constatada a presença do vírus em amostras ambientais no local e com isso foi possível entender que os primeiros infectados tinham passado por esse mercado. Será que existe um hospedeiro intermediário ou o consumo de animais exóticos contribui para essa epidemia? Essas são perguntas e respostas que ainda vão ser respondidas pela ciência.

6. Obteve uma dispersão a nível mundial e estudos mostram que existem diferenças entre os vírus circulantes, mostrando sua facilidade em "mudar" de acordo com a necessidade, ou seja, sofrer processo de mutação. Vale lembrar que os coronavírus são encontrados circulando todo ano em porcentagens menores e nos últimos 20 anos tivemos apenas 2 epidemias envolvendo-os.

7. Apresenta uma baixa taxa de mortalidade se comparado a outros da mesma família, mas são altamente transmissíveis justamente pelas diferenças que apresentam em seu genoma.

Imagem 1: Estrutura viral conhecida do Sars-Cov-2


Entender como o vírus é e como ele funciona torna possível a realização de medidas preventivas e de controle para evitar ao máximo um colapso no sistema de saúde, o que hoje é maior preocupação de todos. No começo, era possível identificar a origem da transmissão dos casos confirmados, pois encontravam-se isolados, hoje a transmissão comunitária já foi confirmada e não se tem mais conhecimento da origem de muitas das transmissões. Precisamos lembrar que existem outras doenças que já circulam no nosso país, em que os pacientes diagnosticados também precisam ser tratados em leitos, como por exemplo, a dengue que esse ano mais que dobrou no número de casos. Por isso, é importante que todos colaborem e façam sua parte, pois a partir do momento em que o sistema de saúde estiver saturado, o número de mortes pode subir. Quais seriam então as medidas de controle?


MEDIDAS PREVENTIVAS


1. Estudos mostraram por quanto tempo o vírus consegue sobreviver em diferentes "locais" e esse tempo pode variar de 40 min a 3 dias! Imagina quantas pessoas podem ser infectadas num período de 3 dias? Limpe toda e qualquer superfície e não compartilhe objetos de uso pessoal, como copos, talheres e pratos ( se estiver apresentando sintomas)

2. Lembram quando falei que ele tem um envelope que o protege? Então, com o uso de produtos adequados é possível retirar essa proteção e com isso tornar o vírus inativo, ou seja, sem capacidade de transmissão e infecção. Utilize produtos como desinfetantes ( limpadores multiuso, desinfetantes, limpa-vidro ou água sanitária diluída) e álcool 70% para limpeza de superfícies e para a lavagem de mãos nada melhor que água e sabão (sabonete, detergente, shampoo), deixe o álcool 70% na bolsa e só use quando você não puder lavar as mãos!

3. O isolamento social é realizado para evitar que o vírus se espalhe entre a população. Por isso é de extrema importância evitar aglomerações. A taxa de transmissão do vírus é alta, uma pessoa infectada pode transmitir para até 4 pessoas, então imagina quantas pessoas poderiam se infectar apenas por passear no shopping? Ou ir ao mercado desprotegida e sem tomar os cuidados necessários? Em casa, tente manter o ambiente arejado!

4. Se estiver sentindo algum sintoma de gripe, cubra a boca e o nariz com um lenço e o jogue imediatamente no lixo, caso não tenha um lenço, use a parte interna do cotovelo. Se for necessário sair, use máscara. Evite também levar as mãos nos olhos, boca e nariz, uma vez que são eles a porta de entrada para o vírus.

5. O uso de máscaras hoje já é indicado para toda a população, porém o ideal é agir com cautela. Busquem alternativas de máscaras que possam ser feitas em casa e as use apenas se sair for necessário. Não há necessidade de estocar materiais como máscaras, luvas e álcool em casa, lembre-se que estamos todos na mesma situação e precisamos ponderar as necessidades de cada grupo.

Imagem 2: Tempo de sobrevida do Sars-Cov-2 em diferentes superfícies


Imagem 3: Exemplos de medidas a serem seguidas antes de sair de casa! SÓ SAIA SE FOR NECESSÁRIO!!

Imagem 4: Exemplos de medidas a serem adotadas após chegar em casa


Todas as medidas apresentadas ou expostas excessivamente para a população parecem ser um tanto extremistas, mas são necessárias nesse momento para evitar um possível colapso no futuro. Algumas pessoas tem se incomodado com o fato da exposição demasiada sobre a doença, mas infelizmente ainda temos uma parcela de pessoas que acham que tudo isso não passa de uma simples gripe e é preocupante. O que se espera da doença é que ela atinja seu pico em Abril, ou seja, é nesse mês que estaremos enfrentando o maior número de casos. A doença pode estar atingindo números menores do que os esperados pelo Ministério da Saúde mais vale lembrar que existem casos subnotificados, ou seja, que não são considerados nas estatísticas e que portanto, tais valores não representam a real situação que possamos estar vivendo em números. Todavia mostra com toda certeza que a doença continua a infectar um grande número de pessoas a cada dia e com isso, aumentando o do número de óbitos. As medidas tem que ser contínuas até que seja declarado o fim de transmissões locais, a diminuição da curva de crescimento dos pacientes infectados e a declaração de uma resposta imune completa por parte dos pacientes já recuperados. Se as notícias tem lhe deixado ansioso, preocupado ou tem trazido um mix de emoções, aproveite esse tempo em casa e ponha sua vida em ordem, faça aquele trabalho que está atrasado, compartilhe informações verídicas que possam ajudar as pessoas, faça um bolo, limpe seu quarto, leia um livro, todos temos algo atrasado ou queremos começar aquilo que nunca temos tempo. Aproveite esse momento! E o mais IMPORTANTE, quando a quarentena acabar, CONTINUEM com os cuidados, pois ainda existirá risco!!! E sobre a doença, vamos falar um pouco a respeito?


COVID-19


1. Nome dado a doença causada pelo vírus Sars-Cov-2 que começou na China e em Janeiro de 2020 a OMS declarou como emergência de saúde global.

2. A descoberta deu-se pelo grande número de pacientes dando entrada nos hospitais com pneumonias graves sem nenhuma explicação aparente intrigando a comunidade médica. Após investigações foi detectada a presença de um novo vírus que até então não circulava em humanos e medidas começaram a ser tomadas.

3. Pacientes sintomáticos apresentam em menos de uma semana quadros de tosse, febre, congestão nasal, fadiga e dificuldade de respirar, podendo evoluir para casos mais graves como pneumonia. Caso, você apresente alguns desses sintomas ou outros que levem ao desconforto respiratório, vá imediatamente a um hospital para ser avaliado.

4. A média de incubação do vírus, ou seja, o período em que ele fica no seu organismo quietinho e se multiplicando é de 5 dias (1-14 dias) e o tempo médio de recuperação da doença pode levar de 2 a 3 semanas, sendo o período de internação médio para casos mais graves de 10 dias.

5. Estudos mostram que a maioria dos casos mais graves envolviam pessoas idosas e pacientes com comorbidades como diabetes e hipertensão. Com isso, ficou claro que idosos, portadores de HIV, pacientes oncológicos, transplantados, diabéticos, doentes cardiovasculares/pulmonares e hipertensos pertencem a um grupo em que a chance da doença evoluir para um quadro mais grave é maior, conhecido como grupo de risco e por isso, merecem uma atenção a mais.

6. Mesmo pessoas do grupo de risco sendo mais vulneráveis a doença, vale lembrar que qualquer pessoa pode ser infectada e no decorrer da doença evoluir para um quadro mais grave! É importante cuidado em todas as idades!

7. Embora os pacientes sintomáticos chamem a atenção e inspirem cuidados, a real preocupação são com os pacientes assintomáticos. E o que é isso? São pessoas que transportam o vírus de um lado para o outro sem apresentar os sinais da doença, ou seja, ela está infectada e não sabe, mais mesmo assim é capaz de transmitir. Estudos mostram que a incubação em pacientes assintomáticos é de 19 dias. Quem são essas pessoas nesse momento da epidemia é difícil identificar e ter um controle, por isso, evitar o máximo de contato e circulação de pessoas vem sendo as melhores medidas a serem adotadas.

8. Estudos comparando exames laboratoriais de pacientes com quadros mais graves ou em curso de gravidade demonstram alterações que podem talvez ser usadas para definir em que curso está a doença e se ela está presente, porém mais observações devem ser feitas antes de garantir que isso realmente é possível, assim como mais observações usando imagens de tomografia devem ser consideradas para diagnosticar a doença.

9. Um vez dentro do organismo humano, o vírus encontra um receptor de célula que ele tem alta afinidade e se multiplica. Esses receptores estão nas células do pulmão, mas estudos demonstram que elas também podem estar presentes em outros órgãos (coração, cérebro, rim e órgãos do sistema digestório) e isso pode afetar a dinâmica da doença uma vez que o vírus teria mais opções disponíveis.

10. As células presentes no pulmão possuem um receptor conhecido como ACE2 e é por ele ocorre a interação vírus x célula. Quando eles se encontram o vírus é carregado para dentro da célula por uma bolsinha e a partir daí todo o processo de infecção acontece.

10. O ciclo é o mesmo de outro vírus já conhecido, o Sars-Cov, a diferença é que o Sars-Cov-2 tem mais afinidade pela ACE2 e isso explica o porque dele ser capaz de se disseminar mais rápido.

11. A transmissão é feita através de gotículas (espirro e tosse), contato direto com secreções (catarro e coriza), contato próximo de pessoas com sintomas e contato com superfícies e objetos contaminados. Pessoas infectadas são capazes de transmitir o vírus antes, durante e um pouco depois do tratamento.

12. Estudos mostram que possivelmente o vírus pode ser encontrado em lágrimas, fezes e sangue, porém são fatos que precisam de maiores estudos, mas que comprovadamente é nas vias nasais que se concentram as maiores cargas virais.

13. Já foram relatadas transmissões neonatais, por isso todo o cuidado com recém-nascidos após o parto.

Imagem 5: Demonstração de como o vírus interage com a célula


14. A cura na maioria dos casos acontece naturalmente, porém em casos mais graves ainda não temos disponível medicamentos ou vacinas que destruam o vírus. O único tratamento disponível é apenas sintomático. Estudos demonstram diversas opções possíveis de tratamentos sendo testados com medicamentos já disponíveis no mercado, mas são apenas especulações e estudos.

15. Medicações que afetam a interação vírus-célula , a replicação viral, a entrada do vírus na célula e até mesmo imunoterapia são teorias e metodologias a serem testadas e é por isso que devemos mais do que nunca incentivar nossos cientistas. Cientistas esses que no Brasil são na sua maioria estudantes que com o pouco que tem conseguem fazer muito!


O que acontece hoje com os pacientes que chegam aos hospitais com sintomas suspeitos de Covid-19 é uma triagem, onde os casos mais leves são mandados para casa com atestado de 14 dias e isolamento do paciente e de todos que ele teve contato e os casos mais graves são testados laboratorialmente. E o que isso quer dizer? Quer dizer que apenas os casos mais graves tem realmente a confirmação da presença do vírus, os demais são liberados sem ter essa certeza. Para que ocorra a confirmação é necessário o uso de teste molecular, ou seja, através de amostra nasal e faríngea do paciente, o RNA do vírus presente é copiado muitas vezes e essas cópias nos dizem se ele realmente está ali. Esse é o cenário ideal? Não! O cenário ideal é que todos os casos suspeitos sejam testados para ter a confirmação, porque dessa forma é possível obter um controle das fontes de infecção, mas infelizmente não é algo possível dentro do nosso cenário atual. Isso quer dizer também que os números divulgados são maquiados, ou seja, não são valores reais do que realmente está acontecendo e isso é preocupante devido ao medo dos sistemas de saúde entrarem em colapso. Controlar a fonte de infecção, proteger as pessoas saudáveis e interromper a cadeia de transmissão são medidas de controle efetivas e já usadas em alguns países e que podem trazer sucesso. Existem algumas dificuldades com relação a prevenção por ser uma doença com sintomas comuns, ser capaz de infectar antes do aparecimento dos sintomas, ter tropismo por mucosa, longa duração e transmissão após recuperação clínica, mas se cada um fizer sua parte, é possível que tenhamos esperança.

Acredito que é conveniente ressaltar a importância de um bom sistema de vigilância que mantenha atualizado quais são os patógenos circulantes a nível nacional, sendo esta uma forma de prever futuras epidemias e surtos e nos deixar informados que tipo de doenças são previstas dentro de um período temporal.


Se você chegou até aqui Obrigada e Lave as Mãos!


Com amor,


Lua


Fontes: Velavam e Meyer, 2020 - Pan et al, 2020 - He et al, 2020 - Lin et al,2020 - Zou et al, 2020 - Singhal, 2020 - Zhao et al, 2020 - Baig et al,2020 - Guo et al,2020 - Wang et al, 2020


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