E então eu me vi sem cabelo...

Engraçado que eu tava preparada até o diagnóstico. O após. A quimioterapia. A busca pela cura. Tudo isso não tinha sido pensado por mim ainda. Quando o médico falou que eu ficaria uns meses em tratamento, eu já comecei a imaginar as coisas que poderiam acontecer e olha! O que aconteceu não foi nem 1/3 do que passou pela minha cabeça. A vida é uma caixinha de surpresas mesmo. Meu cabelo estava ENORME e a única coisa que eu pensava é que eu sentiria MUITO mais se ele começasse a cair daquele jeito e por isso eu decidi cortar! Mesmo o médico falando que tinha uma chance dele continuar onde estava, mas como eu não sou uma menina de sorte resolvi cortar. Cortar E DOAR!! Sai pesquisando em tudo quanto é lugar salões ou locais que aceitam doação de cabelo por Niterói-RJ - que é onde moro - e olha, que dificuldade! Não achei NENHUM salão que faça esse serviço de forma voluntário, ou seja, não cobre o corte para quem quer doar. Geralmente isso só ocorre pras campanhas que envolvem câncer de mama, mas as pessoas precisam começar a ter consciência que o câncer é uma doença mundial e que existem diversos tipos. E ele não espera. Oferecer esse tipo de serviço não vai afetar as finanças do salão até porque não é todo mundo que quer cortar 20cm do cabelo e aceitar ele mais curtinho. Campanhas todo mês deveriam ser feitas em prol de pessoas com câncer, independente do tipo. O único salão que oferecia o corte por um valor "menor" e depois enviava os cabelos para a ONG Cabelegria era o salão Walter's Coiffeur que ficava em frente a praça de alimentação no Plaza Shopping e foi lá que eu fui cortar um pouquinho da minha força para transferi-la para outra pessoa!

Mesmo curto, eu sempre tive o cabelo MUITO cheio! Os cabeleireiros ficavam loucos com isso, eu sempre tive MUITO cabelo! MUITO! Por isso que as falhas começaram a aparecer tarde! Eu olhava pro chão da casa, do quarto e só via cabelo! Caia aos montes na minha mão e toda vez que eu passava as mãos pelo cabelo! Até o momento em que eu conseguia cobrir as falhas, por mim estava ótimo continuar com ele grande!

Eu não vou mentir falando que não doeu não! Doeu pra caralho! Eu nunca fui uma menina super vaidosa, que tomava todos os cuidados do mundo com a pele e cabelo, mas eu sempre amei meu cabelo, tinha um orgulho danado de nunca ter usado nenhum produto químico nele e mesmo assim, ele não quis ficar comigo! Eu era a única paciente mulher e nova tratando de Linfoma de Hodgkin no meu setor e era a única que o cabelos resolveram cair! Todos os outros pacientes ficaram com seus cabelo mais fininhos, porém ainda na cabeça! Eu relutei MUITO pra raspar! Meu noivo e minha mãe rasparam muito antes de mim! Eu não queria estar careca no meu chá de lenço, porque no fundo eu quis acreditar que aquilo não estava acontecendo. Mais estava. E eu não podia mais evitar.

No dia 25/11/2018, logo após minha festa de 25 anos, eu decidi raspar meu cabelo! Eu precisava ACEITAR que meu corpo e eu estávamos passando por um novo ciclo. Ciclo esse necessário para que alcançasse a cura. E não foi fácil. Assim que eu encarei o espelho pela primeira vez, eu não parei de chorar!! Eu chorava o tempo todo porque na minha cabeça, aquilo era a confirmação de que eu estava doente. Andar de máscara e lenço na rua era sentença de câncer e eu não queria que as pessoas sentissem pena ou ficassem me encarando! Acredito hoje que chorei mais pela confirmação e a ficha ter caído que eu estava realmente doente do que pela perda dos cabelos! Depois dessa primeira vez sem cabelos, eu ainda tive que raspar DE NOVO porque os pequeninos que ainda tinha ficavam caindo e coçando tudo, então depois da 2 vez que eu raspei não cresceu mais nada! Caiu e assim ficou! Lado bom dos pelos caírem é que a gente não precisa se depilar, mais também aprende a função de cada um dos pelinhos em suas particularidades - hahaha - !

Com amor,

Lua